Cidacs Informa - Especial Ciência de Mulher
Boletim mensal temático do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) - Edição de março de 2023
A luta das mulheres por direitos é sempre rememorada no mês de março. Mais do que uma oportunidade de celebrar as conquistas e o papel das mulheres na sociedade, é o momento de refletir sobre o caminho que ainda precisamos trilhar até a superação das desigualdades de gênero.
No Cidacs, com equipe composta pela maioria de pessoas do sexo feminino, essa discussão está presente não somente nos diversos papers que debatem a desigualdade de gênero na saúde, mas também no cotidiano de cada uma, que enfrenta no dia-a-dia os desafios de ser mulher, com múltiplas jornadas, no mundo científico.
Assim, essa edição do Cidacs Informa, destacamos o especial Ciência de Mulher, uma série audiovisual que traz uma parte da história de algumas das mulheres que compõem o nosso Centro, lembrando que a ciência de qualidade é construída antes de tudo por pessoas. Além disso, reunimos alguns achados que abordam a questão de gênero e convidamos você a conhecer um pouco sobre essas pesquisas.
Boa leitura!
🎬 Ciência de Mulher - Campanha audiovisual
Para celebrar o Mês da Luta da Mulher, o Cidacs lançou uma campanha audiovisual. Disponíveis no Youtube do Cidacs, os quatro episódios trazem o perfil de mulheres integrantes da comunidade interna do Centro. Em Ciência de Mulher, as entrevistadas falam sobre suas trajetórias pessoais e acadêmicas e os desafios de ser mulher e ocupar cargos de liderança ou de pesquisa.
MARIA YURY ICHIHARA
Médica epidemiologista, Maria Yury é vice-coordenadora do Cidacs e compartilha sua história como ativista da saúde pública, trabalhando com populações em situação de vulnerabilidade. “Eu sempre lutei pela justiça social, minha relação com a saúde pública foi entender as injustiças para intervir nelas”, explica. Em meio a essas vivências, fala sobre suas experiências de maternidade e inspira outras mulheres com uma mensagem de incentivo. Assista:
RAIZA TOURINHO
“Eu me dei conta de que a líder que eu queria ser era a pessoa que eu sou”, comentou Raíza, que é jornalista e ocupa a posição de líder de comunicação do Cidacs. Hoje, também é mestra em Comunicação e Informação em Saúde pela Fiocruz e doutoranda em Comunicação pela Ufba. Na sua entrevista, Raíza conta como a maternidade impulsionou o seu desenvolvimento profissional e acadêmico e a sua vontade de ser uma pessoa ainda melhor. Assista:
MARIA JENNY ARAÚJO
Aposentada formalmente como professora da Ufba desde a década de 1990, Maria Jenny Araújo integra o Núcleo de Operações do Cidacs e desenvolve atividades de apoio à pesquisa. “Aceitei o trabalho no Cidacs como um desafio e acho que posso dar uma contribuição mesmo nessa fase da vida”, afirmou. Na trajetória de Maria Jenny também estão as suas atividades como enfermeira, integrante do movimento estudantil e atuante nos movimentos políticos das associações de enfermagem. Assista:
DANDARA RAMOS
"Gosto de me colocar como resultado de política pública", afirma Dandara Ramos, pesquisadora associada ao Cidacs e professora do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba. Dandara, que é psicóloga epidemiologista, explica na entrevista que sempre se interessou em estudar o impacto da moradia, do lazer, da cultura, da exposição às violências e outras questões, na saúde das populações. Para isso, caminhou em sua trajetória acadêmica da iniciação científica ao pós-doutorado investigando questões relacionadas desigualdades raciais em saúde, o impacto das políticas públicas, saúde reprodutiva, entre outras temáticas.
🏆 Pesquisadoras de Sucesso
As pesquisadoras do Cidacs seguem fazendo um trabalho brilhante e sendo reconhecidas por isso.
A professora do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG e pesquisadora associada ao Cidacs, Deborah Malta, está entre as mil melhores cientistas mulheres do mundo, segundo o ranking da plataforma Research.com. A pesquisadora foi considerada a segunda colocada entre as cientistas do Brasil e está na posição 835, somando 766 publicações e mais de 89 mil citações.
A pesquisadora Dandara Ramos recebeu, em 2022, o Prêmio Ciência Pela Primeira Infância, com a pesquisa “Avaliação do impacto do Programa Bolsa Família na mortalidade na infância, um estudo da Coorte de 100 Milhões de Brasileiros”. O prêmio reconhece pesquisas que tenham resultados relevantes para a formulação ou qualificação de políticas públicas, programas ou serviços destinados a crianças na primeira infância.
Também em 2022, a pós-doutoranda do Cidacs Flávia Jôse Alves teve o seu trabalho reconhecido como melhor tese da área de Saúde Coletiva pela Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (Capes). O trabalho foi orientado por Mauricio Barreto e coorientado por Dandara Ramos.
A pesquisadora associada ao Cidacs, Maria da Glória Teixeira, foi uma das protagonistas do documentário “Ciência, luta de mulher”. A iniciativa coordenada pelo Observatório do Conhecimento, conta as histórias de mulheres cientistas e suas reflexões sobre fazer ciência no país, durante uma pandemia.
Nossa pesquisadora Daiane Machado deu uma entrevista para a renomada revista PLOS Medicine, sobre a pesquisa que desenvolve em parceria com a Harvard, a respeito da integração de dados para conhecimento em saúde. Ela foi a primeira a ganhar o Prêmio Andrej Marušič da International Association for Suicide Prevention (IASP). O conteúdo completo está disponível aqui!
Mulheres no Foco da Pesquisa
O Cidacs publicou diferentes estudos abordando as desigualdades sociais em saúde e, em muitos deles, as mulheres foram o foco. Confira algumas dessas investigações:
Vacinação em gestantes 💉🤰🏿
Um estudo com a liderança de Enny Paixão e outros pesquisadores associados ao Cidacs identificou que somente uma dose da vacina Coronavac não é eficaz para proteger mulheres grávidas dos sintomas da Covid-19. Foi constatado também que duas doses ofertaram uma taxa de 41% de efetividade contra a covid sintomática, com 85% de chance de evitar sintomas graves. O estudo faz parte do projeto Vigivac, liderado pelo professor Manoel Barral-Netto. Saiba mais aqui.
👩🏾🍼 Saúde Mental no Pós-Parto
Estima-se que entre 10% e 15% das mulheres são afetadas por transtornos mentais associados à fase do puerpério, podendo estar relacionados a aspectos como escolaridade, nível socioeconômico e doenças mentais anteriores. Um estudo do Cidacs avaliou quais são os fatores que estão associados aos transtornos psiquiátricos de mulheres brasileiras após dar à luz. Saiba mais aqui.
Prematuridade 👶🏾
Mulheres que tiveram parto prematuro em uma gravidez anterior possuem um risco aumentado de ter outros partos nessas circunstâncias. Essa foi a constatação de um estudo do Cidacs publicado no Internacional Journal Gynecology and Obstetrics, que investigou a recorrência de nascimentos prematuros entre a população brasileira mais pobre.
Outro estudo, baseado na Coorte de Nascimento, buscou identificar qual o perfil das mulheres brasileiras que têm filhos prematuros. Entre os achados, foi identificado que mães casadas, pretas/pardas e mais jovens (entre 14 e 19 anos) possuem mais chance de ter um parto prematuro.
Pesquisadores do Cidacs também fizeram uma proposta de um modelo de análise para compreender o papel dos determinantes sociais no aumento da taxa de nascimentos prematuros ao longo dos anos que, de acordo com estimativas globais, variou de 9,8% em 2000 a 10,6% em 2014. O modelo foi publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva.
📈 Morte Materna 🤰🏿
Um estudo recente do Cidacs, publicado no Journal of the American Medical Association (Jamma) Network, aponta uma taxa geral de proteção de 18% em mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF) para morte materna.
Outro estudo, publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva, fez uma análise sobre o racismo e suas manifestações na morte materna por Covid-19 e identificou que a chance de óbito materno no puerpério foi maior para as mulheres pretas, 62% maior em comparação as brancas.
A Cor da Minha Mãe
Será que ser criança e estar atravessada pelo fator etnia faz diferença no viver ou morrer? Um estudo liderado pelo Cidacs e publicado no The Lancet Global Health constatou que as crianças de mães indígenas têm 14 vezes mais chances de morrer por diarreia. E entre as de mães pretas esse risco é de 72%, todas elas comparadas com as crianças nascidas de mães brancas.
Dores e Direitos
A pesquisadora associada ao Cidacs Emanuelle Góes explicou em seu artigo A Deadly Cycle Inequalities (Um ciclo mortal de desigualdades) publicado na NACLA Report on The Americas especial, que as mulheres pretas são atravessadas por essas duas questões (o gênero e a raça) e que, na pandemia, o racismo e o machismo estruturais contribuíram para que elas fossem as primeiras vítimas mortais, ao tempo em que também foram as mãos cuidadoras nos leitos de hospitais.
A pesquisadora também concedeu uma entrevista ao Brasil de Fato Bahia no dia 28 de setembro, data que marca a luta pela descriminalização e legalização do aborto na América Latina e Caribe. Na entrevista, Emanuelle explica o que são direitos sexuais e reprodutivos, quais os avanços das políticas públicas brasileiras em relação ao assunto e discute as barreiras estruturais que ameaçam a vida de mulheres negras no Brasil.
🔎O que vem por aí ...
Nos próximos anos, os estudos do Cidacs continuarão a analisar como a vida das mulheres brasileiras é atravessada pelas desigualdades sociais em saúde. Por exemplo, parte das investigações futuras têm o intuito de, a partir da Coorte de 100 Milhões de Brasileiros, trazer novas observações sobre maternidade e gravidez na adolescência, fazendo comparações com questões relacionadas a condições de moradia, mães adolescentes e mães adultas e questões em grupos específicos como quilombolas, indígenas, adolescentes com deficiência, entre outras.
Estratégias Educativas 📚
Uma iniciativa do Cidacs, em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) gerou a cartilha “Sem Deixar Ninguém para Trás: Gravidez, Maternidade e Violência Sexual na Adolescência”. O objetivo da publicação é chamar atenção para a importância de se garantir o amplo acesso de adolescentes no Brasil a direitos, informações, serviços e insumos de saúde sexual e reprodutiva, e fortalecer a prevenção e o enfrentamento à violência sexual.
O Cidacs está estruturando e fortalecendo a sua Comissão de Diversidade, Equidade e Engajamento. Em 2022 e já em 2023, os integrantes do Centro se reuniram no dia 8 de março, dia que marca a luta das mulheres por igualdade e por direitos, para discutir a promoção de um ambiente mais equitativo, diverso e acolhedor para todas as colaboradoras e todos os colaboradores.
#Acontece no Cidacs⚡
Reconhecimento internacional 🎖️
O Cidacs/Fiocruz Bahia recebeu o prêmio “The Information and Data Distribution Award 2023 “ da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA) pelo trabalho no uso de dados e pela produção de conhecimento em contextos adversos como a pandemia de Covid-19. O prêmio será entregue ao coordenador do Cidacs em maio de 2023, na presença de mais de três mil profissionais de saúde pública e pesquisadores, formuladores de políticas e estudantes que se reunirão em Roma, Itália, para o 17º Congresso Mundial de Saúde Pública. Saiba mais
Seminário GCE Brasil 👥
Os dados gerados pelos projetos do Cidacs serão apresentados no Seminário Final de Avaliação dos projetos da Chamada Grand Challenges Explorations Brazil (GCE Brasil). Com o tema “Ciência de Dados para Melhorar a Saúde Materno-infantil, Saúde da Mulher e Saúde da Criança no Brasil”, o evento acontecerá nos dias 12 e 13 de abril.
📃 Nova publicação: Migração e iniquidades em saúde
Artigo publicado na The Lancet Regional Health – Americas identificou disparidades nas taxas de mortalidade das populações migrantes se considerados os diferentes grupos etários e de gênero. O estudo teve a liderança de nossa pesquisadora associada Júlia Pescarini, professora da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) e comparou taxas de mortalidade entre brasileiros e imigrantes internacionais e entre brasileiros que migraram para outros estados e os não migrantes. Leia mais aqui.
Paper Zika 🦟👩🏾🍼
De que morrem as crianças que nasceram com Síndrome Congênita da Zika (SCZ)? Pesquisa liderada pela pesquisadora associada ao Cidacs e à London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), Enny Paixão, observou que infecção generalizada e doenças do aparelho respiratório foram as causas mais frequentes dos óbitos nesse grupo de crianças, quando comparadas com crianças com outras anomalias neurológicas. Clique aqui e confira a matéria sobre esse importante estudo que foi publicado na PLOS Medicine.
Fórum de Saúde das Periferias 🌃
O Cidacs participou de mais um encontro do Fórum de Saúde das Periferias da Bahia. A atividade aconteceu no dia 02/03, no auditório do IGM/Fiocruz Bahia, e teve como objetivo promover mais um momento de interação entre representantes de grupos de comunidades, da gestão pública e pesquisadores. O Fórum, criado em janeiro deste ano, busca conectar ativistas sociais e pesquisadores na discussão de políticas públicas voltadas para a saúde das populações que vivem nas periferias e comunidades na Bahia. Leia mais
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Até a próxima!